Depois de acomodado no Marriot, devidamente banhado e alimentado, mas ainda com o Jet Lag bafejando meus calcanhares, fui ao local do evento. Estes congressos nos EUA funcionam mais ou menos assim: selecionam um grande hotel para ser a base - onde as exposições vão ocorrer e os medalhões vão falar - e outros hotéis ao redor deste, para eventos menores (que podem ser até mesmo em suítes ou salas pequenas a depender da audiência esperada). Neste caso, além desta estrutura lançaram mão do centro de convenções de Philli que é, com o perdão da má palavra, monstruoso. Ocupa um quarteirão inteiro e tem três andares.
Foi somente aí que a ficha caiu: eu imaginava que o congresso era algo como estou acostumado no Brasil ou o outro que fui em Salt Lake City - algo em torno de seus dois mil participantes. Ledo engano: o da ASSA é muito grande (para meus padrões) e tinha algo próximo a dez mil inscritos. Gelei.
Minha fala era bem no meio do dia e, como estava lá de véspera, fui ver como era a sala que me foi designada. A dita era IMENSA... cadeira para todo lado... só de entrar deu taquicardia. E aí a insegurança bateu: tinha meia hora para falar para uma audiência enorme - e miseravelmente não tinha mais a certeza e convicção que levara comigo do Brasil. Can you spell panic attack? Voei de volta para o Marriot e para a segurança de minhas anotações e documentos. Desnecessário dizer que a noite foi passada em idas e vindas sobre a apresentação, enquanto maldizia a infeliz idéia de não ter levado meu notebook para alterações de última hora.
Para encurtar a história, no horário marcado lá estava eu. Apresentei-me à Dra. Peters, responsável pela mesa, e à Dra. Berkeley, sua assistente, que ficou interessadíssima no fato de eu ter vindo de tão longe. Informaram-me que meu tempo tinha sido estendido (ai meu Deus) porque o indiano que ia falar antes não comparecera... Enfim: tudo deu certo - passei meu recado, recebi sugestões, comentários e fiz contatos interessantes o que, no fim das contas, é o que interessa e o motivo dessas coisas. Infeliz (ou felizmente) caímos no time slot de um figurão e a sala imensa ficou a um terço da carga. Para mim, já era gente demais.

O mico da hora foi eu ter levado disquetes com a apresentação. Este tipo de mídia não se usa por lá a tempos e nem mesmo os computadores têm drives de 3,5''. O hit do momento são os "pen drives de 5Gb". Senti-me um neandertal. O bom e velho CD resolveu salvou minha cara e resolveu o que era necessário. Na foto ao lado, da esquerda para direita: Robin, Eu, Alisa Watt, Lois e Patricia Grace-Farfaglia.
Depois da coisa acabada fomos, palestrantes, mesa e mais umas cabeças coroadas, almoçar. Para os nativos eram apenas 13h00 mas para mim eram 16h00 e o JL estava mordendo a minha sombra - quase desmaiando de hipoglicemia. O grupo era muito animado e conheci o Dr. Eckers, o qual relatou ser ele o responsável pela sobretaxa no suco de laranja brasileiro exportado aos EUA desde o tempo da administração Reagan.
O caso é que a comissão do ministério do Comércio lá deles era composta por ele e mais cinco eleitos. Contudo, três dos postos estavam vagos quando o pedido chegou à área. Um dos três comissários restantes, por ser representante justamente do lobby do suco de laranja, declarou-se impedido. A votação então ficou no um a um, dado que o outro membro votou contra a taxa. Só que, lá no Tio Sam, quando uma decisão empata, ganha a proposta que seja mais favorável a ELES (lógico). Então, foi ele sozinho quem criou esta bagunça tarifária que perdura até hoje...
O Dr. Eckers disse que conhece bem o Brasil, esteve inclusive em Brasília, discutindo coisas importantes e emendou dizendo ser um historiador. "Certo" disse eu "mas a sua história é bloquear o meu suco!" Todos riram e completei "Mantenham-no afastado da minha soja!". Acho que o humor foi a forma mais elegante de mudar de assunto. Na realidade eu queria fulminá-lo on the spot, e virar herói dos citricultores brazucas. Apesar do papo do suco, a companhia era agradável e não tive que esclarecer que o Brasil não fica entre Gana e o Nepal, apesar das necessárias atualizações sobre o país. Ao final, o almoço foi a conclusão de uma manhã interessante e a nota triste permanece apenas para a comida estadunidense: continua com gosto de coisa alguma.
The Lurker says: Life begins on the other side of despair. (Jean-Paul Sartre)
A seguir o caderno IV (O velho Ben e a taverna da cidade)
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